segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fidel diz que golpistas de Honduras não têm salvação


Em um texto publicado por volta da meia-noite, na página oficial Cuba Debate, Fidel recomendou não ceder nenhum milímetro ante os militares e setores da oposição que apoiaram o golpe contra Zelaya. "Com esse alto comando golpista não se pode negociar, é preciso exigir sua renúncia e que outros oficiais mais jovens e não comprometidos com a oligarquia ocupem o comando militar, ou não haverá jamais um governo 'do povo, pelo povo, para o povo' em Honduras", escreveu.


"Os golpistas, encurralados e isolados, não têm salvação possível", acrescentou. Fidel Castro recorda em seu texto que os golpistas não contam com o respaldo dos Estados Unidos, que apoiou muitos golpes de Estado na América Central durante a guerra fria.


"Até a senhora (Secretária de Estado dos EUA, Hillary) Clinton declarou já em horas da tarde que Zelaya é o único presidente de Honduras, e os golpistas hondurenhos nem sequer respiram sem o apoio dos Estados Unidos", escreveu.


Irmão de Fidel, o presidente cubano Raúl Castro condenou no domingo o golpe contra Zelaya, qualificando-o de brutal. "A época das ditaduras militares na América Latina já passou", havia dito mais cedo o chanceler cubano Bruno Rodríguez. Zelaya foi levado à força para a Costa Rica, após ter sido sacado da residência presidencial por militares.


Confira a íntegra do artigo de Fidel Castro:


Um erro suicida


Na reflexão escrita na noite da quinta-feira, 25, há três dias, eu disse: "Ignoramos o que acontecerá esta noite ou amanhã em Honduras, mas o comportamento valoroso de Zelaya passará à história.


"Dois parágrafos antes, tinha assinalado: "Aquilo que lá aconteça será uma prova para A OEA e para a atual administração dos Estados Unidos.


"A pré-histórica instituição interamericana se reuniu no dia seguinte, em Washington, e, em uma apagada e fraca resolução, prometeu realizar as gestões pertinentes imediatamente para procurar uma harmonia entre as partes em conflito. Quer dizer, uma negociação entre o golpistas e o presidente constitucional de Honduras.


O alto chefe militar, que continuava a comandar as Forças Armadas hondurenhas, fazia pronunciamentos públicos em discrepância com as posições do presidente, enquanto só de um modo meramente formal reconhecia a sua autoridade.


Não precisavam os golpistas de outra coisa da OEA. Não lhes importou nada a presença de um grande número de observadores internacionais que viajaram a esse país para dar fé de uma consulta popular, aos quais Zelaya falou até altas horas da noite.


Antes do amanhecer de hoje, eles lançaram cerca de 200 soldados profissionais bem treinados e armados contra a residência do presidente, que, separando brutalmente a esquadra de Guarda de Honra, seqüestraram Zelaya, que dormia. Ele foi conduzido à base aérea, colocado à força em um avião e transportado a um aeroporto na Costa Rica.


Às 8h30 da manhã, conhecemos pela Telesur a notícia do assalto à casa presidencial e o seqüestro. O presidente não pôde assistir ao ato inicial da consulta popular, que aconteceria este domingo. Era desconhecido o que tinham feito com ele.


A emissora da televisão oficial foi silenciada. Desejavam impedir a divulgação prematura da traiçoeira ação através de Telesur e Cubavisión Internacional, que informavam dos fatos. Suspenderam por isso os centros de retransmissão e acabaram cortando a eletricidade em todo o país. Ainda o Congresso e os altos tribunais envolvidos na conspiração não tinham publicado as decisões que justificavam o conluio. Primeiro levaram a cabo o inqualificável golpe militar e depois o legalizaram.


O povo acordou com os fatos consumados e começou a reagir com grande indignação.


Não se conhecia o destino de Zelaya. Três horas depois, a reação popular era tal, que foram vistas mulheres batendo com o punho nos soldados, cujos fuzis quase caiam das suas mãos por puro desconcerto e nervosismo.


Inicialmente, os seus movimentos pareciam os de um estranho combate contra fantasmas, depois tentavam cobrir com as mãos as câmaras de Telesur, apontavam tremendo os fuzis contra os repórteres, e, às vezes, quando as pessoas avançavam, os soldados recuavam. Enviaram transportadores blindados com canhões e metralhadoras. A população discutia sem medo com os soldados nos blindados; a reação popular era surpreendente.


Ao redor das 2h da tarde, em coordenação com os golpistas, uma maioria domesticada do Congresso depôs Zelaya, presidente constitucional de Honduras, e designou um novo Chefe de Estado, afirmando ao mundo que aquele tinha renunciado, apresentando uma falsificada assinatura. Minutos depois, Zelaya, de um aeroporto na Costa Rica, informou todo o acontecido e desmentiu categoricamente a notícia da sua renúncia. Os conspiradores fizeram o ridículo perante o mundo.


Muitas coisas aconteceram hoje. Cubavisión dedicou-se completamente a desmascarar o golpe, informando o tempo todo a nossa população.Aconteceram fatos de caráter totalmente fascista, que não por esperados deixam de surpreender.


Patrícia Rodas, a ministra de Relações Exteriores de Honduras, foi depois de Zelaya o objetivo fundamental dos golpistas. Outro destacamento foi enviado a sua residência. Ela, valente e decidida, se moveu rápido, não perdeu um minuto em denunciar por todos os meios o golpe.


O nosso embaixador tinha estabelecido contato com Patrícia para conhecer a situação, como o fizeram outros embaixadores. Num momento determinado, pediu aos representantes diplomáticos da Venezuela, da Nicarágua e Cuba que se reunissem com ela, que, ferozmente acossada, precisava de proteção diplomática. O nosso embaixador, que desde o primeiro instante estava autorizado a oferecer o máximo apoio à ministra constitucional e legal, partiu para visitá-la na sua própria residência.


Quando estavam já na sua casa, o comando golpista enviou o Major Oceguera para prendê-la. Eles se colocaram diante da mulher e lhe disseram que estava sob a proteção diplomática, e que só poderia mover-se em companhia dos embaixadores. Oceguera discutiu com eles e o fez de maneira respeitosa.


Minutos depois, entraram na casa entre 12 e 15 homens uniformizados e encapuzados. Os três embaixadores se abraçaram a Patrícia; os mascarados atuaram de forma brutal e conseguiram separar os embaixadores da Venezuela e Nicarágua; Hernández a pegou tão fortemente por um dos braços, que os mascarados arrastaram ambos até um furgão ; levaram-nos à base aérea onde conseguiram separá-los, e levam-na com eles.


Estando ali detido, Bruno, que tinha notícias do sequestro, se comunicou com ela através do celular; um mascarado tentou de arrebatar-lhe rudemente o telefone; o embaixador cubano que já tinha sido golpeado na casa de Patrícia, grita-lhe: "Não me empurre, porra!" Não me lembro se a palavra que pronunciou foi alguma vez usada por Cervantes, mas sem dúvida o embaixador Juan Carlos Hernández enriqueceu a nossa língua.


Depois o deixaram em uma rodovia longe da missão e antes de abandoná-lo lhe disseram que, se falasse, poderia acontecer-lhe alguma coisa pior. "Nada é pior do que a morte! ", respondeu-lhes com dignidade, "e não sinto medo de vocês por isso”. Os vizinhos da área o ajudaram a voltar à embaixada, de onde imediatamente comunicou-se mais uma vez com Bruno.


Com esse alto comando golpista não se pode negociar, é necessário exigir a sua renúncia e que outros oficiais mais jovens e não comprometidos com a oligarquia ocupem o comando militar, ou não haverá jamais um governo "do povo, pelo povo e para o povo" em Honduras.


Os golpistas, encurralados e isolados, não têm salvação possível se o problema for encarado com firmeza.


Até a Senhora Clinton declarou que Zelaya é o único Presidente de Honduras, e os golpistas hondurenhos nem sequer respiram sem o apoio dos Estados Unidos.


De pijamas até há algumas horas, Zelaya será reconhecido pelo mundo como o único presidente constitucional de Honduras".
Fidel Castro Ruz
28/06/2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Frases e Notícias da semana

"Pesquisa Ibarómetro na Argentina: Frente peronista pela Victoria tem 37,8% de intenções de voto; em 2º, o empresário De Narváez, da direita, com 31,7%"

(Agência EFE - 26/06)


"Essa eleição é uma disputa entre dois modelos de país"

(Nestor Kirchner, sobre o pleito de domingo, após classificar oposição como "direita neoliberal" - 25/06)


"Acuada, direita argentina, a exemplo de Alckmin, em 2006, tenta à última hora negar o passado e proclama repúdio a privatizações..."

(Carta Maior - 26/06)


"Seis anos após a adoção do modelo 'kirchnerista', o país exibe indiscutível recuperação econômica..."

(Valor - 26/06)


"Acuado, Sarney se diz vítima da mídia por dar apoio a Lula"

(Folha de São Paulo - 26/06)


"TSE decide cassar mandato do governador de Tocantins"

(Estadão - 26/06)


"Assembléia de Deus já cobra votos de fiéis para 2010"

(Estadão - 25/06)


"Heloísa Helena pode ser cassada"

(Jornal do Commercio - 26/06)


"Eduardo Campos recomeça caravanas pelo interior"

(Diário de Pernambuco - 25/06)




quinta-feira, 25 de junho de 2009

Em 2008, bancos tiveram mais ajuda que pobres em 50 anos

O setor financeiro internacional recebeu, apenas em 2008, quase dez vezes mais recursos públicos do que todos os países pobres do planeta nos últimos cinqüenta anos. O dado foi divulgado nesta quarta-feira (24) pela campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) pelas Metas do Milênio, destinada a combater a fome e a pobreza no mundo. Enquanto os países pobres receberam, em meio século, cerca de US$ 2 bilhões em doações de países ricos, bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18 bilhões em ajuda pública.

A ONU alertou que a crise econômica mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, lembrando que, na semana passada, a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) afirmou que a crise deixará cerca de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo.

A revelação foi feita no início de uma conferência entre países ricos e pobres, que ocorre na sede da ONU, em Nova York, para debater o impacto da crise. Segundo o diretor da Campanha pelas Metas do Milênio, Salil Shetty, esses números mostram que a destinação de recursos públicos ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão de falta de recursos, mas sim de vontade política.

“Sempre digo que se você fizer uma promessa e não cumprir, é quase um pecado, mas se fizer uma promessa a pessoas pobres e não cumprir, então é praticamente um crime”, disse Shetty à BBC. “O que é ainda mais paradoxal”, acrescentou, “é que esses compromissos (firmados pelos países ricos para ajudar os mais pobres) são voluntários”. “Ninguém os obriga a firmá-los, mas logo eles são renegados”, criticou o funcionário da ONU.

Um dos efeitos desta perversa distorção foi apontado pela FAO: a quantidade de pessoas desnutridas aumentará no mundo em 2009, superando a casa de um bilhão. “Pela primeira vez na história da humanidade, mais de um bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de desnutrição em todo o mundo”, advertiu a entidade. A FAO considera subnutrida a pessoa que ingere menos de 1.800 calorias por dias.

Do total de pessoas subnutridas hoje no mundo, 642 concentram-se na Ásia e na região do Pacífico e outras 265 milhões vivem na África Subsaariana. Na América Latina e Caribe, esse número é de 53 milhões de pessoas. Em 2008, o total de desnutridos tinha caído de 963 milhões para 915 milhões. O motivo foi uma melhor distribuição dos alimentos, Mas com a crise, o quadro de fome no mundo voltará a se agravar. Segundo a estimativa da ONU, um milhão de pessoas deverão passar fome no mundo nos próximos meses.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Diário da Palestina (1): a resistência cultural

Uma ocupação colonial não é apenas uma ocupação militar. Ela precisa tentar impedir a sobrevivência da cultura, da memória do povo ocupado. Mais ainda se se trata da ocupação de um povo com uma das mais antigas histórias e mais ricas culturas.

Como era impossível que a Capital da Cultura Árabe pudesse ser Bagdá, pela ocupação das tropas norte-americanas, foi decidido que Jerusalem (que eles chamam de Al-Quds) fosse a Capital da Cultura Árabe de 2009. As comemorações têm sido vítimas das mais violentas e odiosas repressões das tropas israelenses de ocupação. Organizar lindas atividades em torno da cultura árabe passaram a ser um imenso desafio para o Comitê Palestino de Organização, por dificuldades de recursos, de convidar pessoas – poetas, músicos, cantores, artistas do mundo árabe e de outras regiões do mundo - para vir a uma região cercada e ocupada, que deveriam realizar-se nas ruas e praças de Jerusalém.

O ato de apresentação do logotipo dos eventos, programada para ser dar no Teatro Nacional de Jerusalém, em abril do ano passado, foi proibida por Israel, declarado ilegal e reprimido brutalmente por forças militares para tentar impedir sua realização. Foram presos três dos membros do grupo organizador.

Apesar de todas as dificuldades, deu-se inicio às comemorações no dia 21 de março deste ano, com atividades populares nas ruas de Jerusalém, que terminaram com uma noite de fala em Bethlehem. Israel enviou tropas contra crianças que carregavam balões com as cores da bandeira palestina – vermelhas, brancas, verdes e pretas. As tropas de ocupação atacaram os jovens que iam realizar danças tradicionais palestinas, com suas roupas típicas, produzindo cenas de pânico e desespero.

Como reação, todas as escolas, universidades, centros culturais, prefeituras de dentro ou de fora da Palestina, decidiram assumir a celebração organizando atividades sobre a bandeira e o logotipo de Jerusalém Capital da Cultura Árabe de 2009. Centenas de eventos aconteceram em muitos países como mostra de solidariedade e de protesto contra a repressão israelense. Fica claro, cada vez mais, que não se trata da ocupação e da ação militar contra “forças terroristas”, como alegam os ocupantes, mas contra a resistência da cultura palestina.

Os palestinos adotaram o lema: “Jerusalém nos une e não deve dividir-nos”, reforçando a necessidade de união de todos os palestinos para derrotar a ocupação e pela conquista do direito de um Estado palestino, reconhecido pelas Nações Unidas, mas impedida pelos EUA e por Israel.

“Uma vez liberada, Jerusalém não será apenas a inquestionável capital da cultura árabe, mas será a cidade da diversidade cultural e religiosa, da tolerância e do respeito pelos outros. Uma cidade aberta para a paz cujos tesouros históricos e religiosos serão desfrutados por todos, do leste e do oeste. O único muro que a cercará será o muro histórico de sua Cidade Velha e suas 12 portas, incluindo a Porta de Ouro, que uma vez aberta, levará todos os povos do bem para o céu.”

As palavras são de Ragiq Husseini, presidente do Conselho Administrativo do Comitê Nacional pela Celebração de Jerusalém como Capital da Cultura Arabe em 2009. Estar aqui, chegar a Ramallah revela, com toda força, como este é um território ocupado, cruzado por muros que dividem aos próprios palestinos, povoado de tropas e de carros militares, submetendo a este heróico povo à ocupação, à opressão, à humilhação, na mais grave situação de violação dos direitos humanos – políticos, sociais, econômicos, culturais – no mundo de hoje.


Autor: Emir Sader

sábado, 20 de junho de 2009

Perguntas sem Respostas

Talvez o mundo realmente não tenha jeito. Talvez seja impossível, o possível. É muito difícil lutar contra verdades tão mentirosas e brigar por mentiras tão verdadeiras. Tenho tantas perguntas sem respostas, que me chamariam de louco caso as fizesse. Mas vou fazê-las.

Aqui vão algumas perguntas que não têm resposta. Não tentem respondê-las, pois correm o risco de serem desacreditados pelas pessoas mais próximas, sua comida aparecer envenenada após uma visita repentina ou a morte puxar você pelos cabelos para o silêncio eterno.

- Por que a Coca-cola é tão poderosa a ponto de demitir Jesus Cristo e contratar o Papai Noel para protagonista da festa de Natal?

- Por que os Estados Unidos podem produzir bombas atômicas e a Coréia do Norte e Irã não podem?

- Por que todo mundo diz que Hugo Chávez e Evo Morales não são democráticos, se em 2001 os EUA elegeram o candidato que chegou em segundo lugar? (Bush teve 328.696 votos a menos que Al Gore) A democracia não é o governo da maioria?

- Por que se chama de América apenas um país de todo o continente americano?

- Por que os EUA falam de paz, enquanto vendem mais de 50% das armas de todas as guerras?

- Por que o Conselho de Segurança da ONU é formado pelos cinco países que mais produzem armas no planeta?

- Por que o Ministério da Guerra nos Estados unidos se chama Secretaria de Defesa, num país que nunca foi invadido por ninguém?

- Por que a Arábia Saudita (que proíbe os partidos políticos; decapita e mutila seus prisioneiros ao estilo Talibã e não permite que as mulheres dirijam automóveis e nem viajem sem a permissão do marido ou do pai) pertence à Comissão de Direitos Humanos das Nações unidas?

- Por que esta mesma Arábia Saudita não está incluída na lista do Eixo do Mal dos estadunidenses? Será que é porque compra, a cada dia, 10 milhões de dólares em armas aos EUA?

- Por que dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nenhum acontece na prática em nenhum país do mundo?

- Por que ninguém sabe que Obama atacou o Afeganistão em maio de 2009 e morreram 150 pessoas que não tinham nada a ver com isso?

- Por que ninguém comenta que Obama e a GM (que virou estatal nos EUA) está tirando dinheiro dos fundos de pensão (cerca de seis bilhões de dólares) dos trabalhadores nas fábricas, para pagar as dívidas com os bancos JPMorgan e Citibank?

Bom, talvez eu seja lúcido demais para não entender nada do que escrevi ou bastante louco para tentar decifrar esses enigmas.


Felipe Liberal

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Uma semana de greve no ensino da Alemanha


Uma outra greve é possível. E uma outra reitoria também.
Esta semana (a partir de 15 até 19 de junho) é uma semana de greve no ensino alemão. Várias universidades e muitas escolas secundárias paralisaram suas atividades, em diferentes dias, mobilizando-se por mais verbas para a educação, melhores condições de ensino, e por uma gestão mais democrática do setor.
Na Europa têm sido constantes os protestos estudantis motivados contra o chamado “Processo de Bolonha”, uma declaração conjunta dos países integrantes da União Européia. Esse “Processo”, criado de 1998 a 2000, teve por objetivo centralizar e uniformizar as políticas educacionais européias, tendo como alvo aumentar sua competitividade em relação à dos Estados Unidos, no que se refere ao ensino superior. Na prática, ele trouxe a adoção de uma série de medidas inspiradas em critérios empresariais, e foi implantado sem consulta às universidades e outras agências em nível nacional. Significou uma diminuição do espaço público e um aumento da privatização do ensino, além de trazer uma aura de descompromisso dos estados nacionais para com o nível superior de ensino, com diminuição de verbas e por vezes de ofertas de cursos, particularmente aqueles considerados não-rentáveis, ou “de luxo”. A área de humanas foi particular e duramente afetada. (Ver, a esse respeito, o artigo de Lima, LC; Azevedo, MLN; Catani, AM; “O Processo de Bolonha, a avaliação da educação superior e algumas considerações sobre a Universidade Nova”).
Sobre a greve, uma decisão importante foi a da reitoria da Universidade Livre de Berlim (Freie Universität Berlin). O reitor enviou uma carta a todos os docentes pedindo que colaborassem com o movimento dos estudantes, evitando provas nessa semana, pedindo a não adoção de faltas ou outras medidas punitivas contra o movimento, e estimulando-os a participar de atividades como debates e aulas públicas sobre os temas do movimento.
Além da suspensão das aulas, das “aulas na greve” na própria universidade ou pelas diversas cidades alemãs, na quarta-feira, dia 17, houve manifestações de rua por toda a Alemanha. Em Berlim os estudantes se concentraram na Alexanderplatz (famoso lugar berlinense, um antigo bairro operário movimentadíssimo, arrasado pela guerra, hoje uma imensa praça em frente à prefeitura – ver o romance de Alfred Döblin, “Berlin Alexanderplatz”).
Carta Maior esteve lá: havia milhares de jovens (no olhômetro, pois o lugar é muito vasto e a multidão estava muito dispersa, calculei umas dez mil pessoas). Havia muitos jovens muito jovens, que vinham das escolas secundárias, muitos e muitos estudantes universitários, e alguns “seniores” que nem eu, que eram professores, também portando cartazes e faixas, como os outros. Muitos pais jovens levaram suas crianças, e havia um número significativo de paraplégicos com suas cadeiras de rodas motorizadas ou não. Como sempre, nessas ocasiões, era pequena a presença do “escalão médio de idade”, assim, digamos, entre os 30 e os 50 anos, em relação às outras faixas geracionais.
A manifestação evidentemente atrapalhou o trânsito, e modificou a circulação na região. Pude observar o ar irritado de uns tipos “executivos”, com seus ternos e gravatas, na casa dos quarenta anos, com aquilo que para eles devia ser uma perturbação inútil da “Ordnung”.
Havia reivindicações e cartazes para todos os gostos. Iam desde pedidos específicos, como “Um computador para a sala tal da Faculdade X” (esqueci o número e o nome) até o genérico “Mehr Geld für Bildung”, “Mais Dinheiro (ou Verba) para a Educação”. Também: “A educação não é um instrumento (Apparat, aparelho) da economia”. E havia os engraçados: “Mais cérebros para todos”, ou “Quando eu crescer, serei apenas um capital humano”.
A polícia seguia de perto e de longe a manifestação. Não houve confrontos, nem mesmo quando os manifestantes saíram em passeata em direção ao Hackescher Markt, outro ponto tradicional da cidade, antigo bairro judeu e hoje sede de uma série de espaços culturais, sindicatos, etc.
Mas não pensem que tudo são flores e jardins amenos. Na noite anterior, 14, um grupo de estudantes ocupou a reitoria da Freie Universität. O reitor, que enviara a carta, chamou a polícia, para a reintegração de posse. Mas houve uma negociação, conduzida por um grupo de professores, e os manifestantes se retiraram pacificamente do prédio, que ficou incólume, sem danos. É verdade que em sites da greve apareceram reclamações, dizendo que alguns dos estudantes foram “molestados” pela polícia. Mas nem de longe qualquer coisa que se assemelhasse àquilo com que estamos acostumados, quando a nossa polícia “entra em campus”.
Agora, quando digo que nem tudo são flores, quero dizer que também há espinhos brabos por aqui. Na França as manifestações dos estudantes contra as mesmas medidas têm sido marcadas pela repressão policial. Na Alemanha, em protestos de rua, é freqüente a presença dos “Autonomen”, “Autônomos”, grupos de centenas de jovens, que se auto-convocam pela internete, se vestem de preto, com óculos escuros ou lenços sobre o rosto, e que invariavelmente vão para o confronto com a polícia, queima de carros, apedrejamento de vitrines,e outras violências do gênero.
Na noite do dia 14, enquanto estudantes ocupavam a reitoria da FU, a televisão mostrou uma reportagem sobre um jovem aluno universitário que, em 2007, durante as manifestações contra o G-8, em Rostock (Carta Maior também esteve lá), perdeu uma vista devido à ação da polícia. A reunião do G-8 era em cidade vizinha, com forte aparato policial isolando os acessos. Grupos de jovens tentaram chegar ao local atravessando os descampados das áreas rurais. Também foram contidos pelos policiais.
Numa dessas ocasiões, a polícia, não se sabe muito bem por quê, resolveu dispersar os manifestantes com jatos de água. Aliás, quando daquela cobertura, pude constatar em várias ocasiões o despreparo, pelo menos daquelas forças policiais que lá estavam, para lidar com essas situações.
Além de repressora, a atitude dos policiais foi absurda, pois os jovens não bloqueavam qualquer caminho, nem investiram contra o aparato. O jovem em questão foi surpreendido – pois o clima não era de confronto – e tomou o aparentemente “inofensivo” jato de água de frente, em pleno rosto, o que lhe esmagou um dos olhos. O jovem agora processa a polícia que, por seu turno, nega ter qualquer responsabilidade pelo ocorrido (?!).
Muitos jovens – e pude conversar com alguns a respeito – reclamam que nos últimos anos houve um “endireitamento” do corpo docente, tornado mais e mais conservador em muitas áreas. Isso rima com aquela observação sobre gerações que fiz acima e em outras matérias, sobre a existência de uma “geração perdida” na Europa, a que amadureceu com a crise e a queda dos regimes comunistas do leste europeu. Felizmente entre os mais jovens a tendência é outra, mais participativa e também mais contestadora – o que não quer dizer que tenham propriamente nostalgia em relação aos regimes que ruíram. Têm, e há pesquisas interessantes a respeito – de alguns aspectos, sobretudo, é claro, nas áreas de emprego e políticas sociais. Além de que no lado oriental as políticas eram de pleno emprego, a situação das mulheres, por exemplo, em matéria de creches e direitos da maternidade, era muito melhor do que a de agora, no capitalismo triunfante.
De todo modo, a semana de greve pela educação foi cheia de ensinamentos para este correspondente. Entre eles, a de que, com todos os problemas e conflitos que podem existir, uma outra greve e um outro tipo de autoridade universitária são possíveis.
Autor: Flávio Aguiar

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Frases e Notícias da semana

"No México, há pouco tempo, aconteceu a eleição presidencial onde a direita ganhou por apenas 1% de diferença. A mídia pediu para que se respeitasse."

(Lula fazendo referência à eleição do Irã / 18-06)


"Acho impossível que alguém consiga manipular 30% dos votos"

(Lula se referindo à crise eleitoral no Irã / 17-06)


"A polícia não cometeu nenhum erro"

(Serra em relação à repressão da Polícia no campus da USP - Folha de S. Paulo / 17-06)


"A retração do comércio mundial, tem sido pior que o 1º ano da Grande Depressão de 29"

(Martin Wolf, sobre as semelhanças e diferenças entre as duas crises / 18-06)


"Mais de 2.500 pessoas protestaram contra a repressão policial na greve da USP"

(Carta Maior / 18-06)


"Candidatura em SP é fofoca forte"

(Ciro Gomes falando da sua possível candidatura ao governo de São Paulo - Folha de S. Paulo / 18-06)


"Lula defende Sarney e critica o "denuncismo" da imprensa"

(Folha de São Paulo / 18-06)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A direita terrorista e o "big brother" Obama


Em abril a secretária de Segurança Interna dos EUA, Janet Napolitano, divulgou o extenso relatório de seu departamento (DHS, Homeland Security) sobre a ameaça do extremismo de direita no país. Foi ridicularizada pelo império Murdoch de mídia, Fox News à frente. Apesar da reação inicial, a advertência é afinal levada a sério depois de dois ataques extremistas - que agora ameaçam dividir o jornalismo da Fox.


Aparentemente os excessos dos talk shows de Murdoch preocupam também alguns jornalistas da casa. A vítima do primeiro ataque extremista, em maio, foi o médico de uma clínica de aborto do Kansas, George Tiller, assassinado por um fanático religioso. No segundo, a 10 de junho, extremista defensor da supremacia branca atacou o museu do Holocausto na capital e matou um segurança a tiros.


O extremismo de direita tem facções múltiplas. É religioso, patriótico e racista. Teme a invasão dos EUA por tropas da ONU e raças múltiplas, que chegariam em helicópteros negros. Em The Turner Diaries, ficção racista e anti-semita, lida nas milícias que infestam o país, o autor William Luther Pierce retrata uma revolução violenta, guerra nuclear, tomada do poder e extermínio de judeus e não-brancos.


A vítima do atentado do Kansas, George Tiller, era chamada pelo campeão de audiência do horário nobre na Fox News, Bill O’Reilly, de “assassino de bebês” - o que pode ter encorajado o extremismo de direita a matar Tiller. Depois do crime, O’Reilly jurou que fazia apenas “análises baseadas em fatos” e às vezes citava grupos cristãos contrários ao aborto, que chamavam Tiller de “baby’s Killer”.


“Um lugar no inferno para ele”


Jornalistas e blogs mais à esquerda acusam a Fox. “Qual o próximo alvo da ira de O’Reilly e (Glen) Beck a ser abatido a tiros por terroristas conservadores?” - perguntou a 31 de maio o blogueiro Markos Moulitsas, do Daily Kos. No mesmo dia Mike Hendricks escreveu no jornal Kansas City Star que são cúmplices todos os que se referiam à vítima, na TV, como “baby’s Killer” e “Tiller, the Killer”.


Para O’Reilly, seus críticos são “odiadores da Fox”; e defendem a vítima mas são indiferentes à sorte de 60 mil fetos supostamente destruídos por Tiller. Ele jurou, ao mesmo tempo, nunca ter usado as expressões ofensivas ao médico. Mas o site Media Matters for America, ativo no monitoramento da mídia, relacionou as datas (foram dezenas) nas quais o dr. Tiller foi acusado daquela forma.


A 27 de março, depois de Tiller ter sido absolvido em processo movido contra ele por grupo religioso antiaborto, O’Reilly disse: “Tiller, o assassino de bebês, foi absolvido no Kansas. (…) Deve haver um lugar especial no inferno para esse cara”. A 3 de abril o herói do horário nobre da Fox atacou de novo: “Tiller foi absolvido no Kansas. Tiller, o assassino de bebês”. Eram afirmações dele e não citações.


Ao abordar, a 27 de abril, o veto a um projeto de lei antiaborto, ele se referiu de novo ao “caso de Tiller, assassino de bebês”. A 11 de maio, falando da secretária de Saúde Kathleen Sebelius, ex-governadora do Kansas, também observou ser aquele “o estado do dr. Tiller, o assassino de bebês”. Consumado o assassinato, passou a alegar cinicamente que só usava a expressão citando outras organizações.


Fundamentalismo cristão, a ameaça


Na verdade, O’Reilly não informava: fazia campanha, havia quatro anos, contra o dr. Tiller, que se tornou personagem fixo em seus talk shows, até ser morto. O crime, a 31 de maio, levou mais jornalistas - Helen Kennedy no Daily News de Nova York, Keith Olbermann na MSNBC e a ex-produtora do “60 Minutes” da CBS, Mary Mapes, em artigo no Huffington Post - a culpar a pregação de ódio de O’Reilly.


Em razão disso veio ainda a reação inesperada dentro da própria Fox de Murdoch. O jornalista Shepard Smith, que apresenta de Nova York o noticiário Studio B, e a correspondente Catherine Harridge, que cobre o Pentágono e assuntos de segurança nacional, disseram que a morte do dr. Tiller e o ataque de James W. von Brunn ao museu do Holocausto davam relevância maior ao relatório do DHS.


Antes, ao ser divulgado o relatório, O’Reilly e Beck o repudiaram e Sean Hannity retratara o presidente Obama como o “Big Brother” de George Orwell a vigiar os americanos. Smith e Harridge ousaram adotar posição oposta. O objetivo maior do DHS fora alertar departamentos de polícia - e demais órgãos encarregados de fazer cumprir a lei - para os perigos representados pelo extremismo de direita.


A preocupação das autoridades do Departamento de Segurança Interna, a começar pela secretária Napolitano, é compreensível. A partir do 11/9 a obsessão do país tinha passado a ser o terrorismo muçulmano mas antes disso os terroristas mais ativos estavam na direita - como os milicianos brancos motivados pela supremacia racial e o fundamentalismo cristão obscurantista, comparáveis a Osama Bin Laden.


Ideais e obsessões de Oklahoma City


Na década de 1990, os federais acompanhavam a proliferação de milícias e seitas no país, com confrontos como o que levou ao incêndio no complexo davidiano de David Koresh em Waco, Texas. Ali morreram 54 adultos e 21 crianças em 1993. Dois anos depois, em 1995, veio o atentado de Oklahoma City - o maior ocorrido no país antes do 11/9. Matou 168 pessoas e deixou mais de 800 feridas.


Veterano da guerra de 1991 no Iraque, o terrorista Timothy McVeigh, simpático às milícias de direita, pagou com a pena de morte pelo crime. O relatório do DHS, não por acaso, alertava para a necessidade de preparar o país para o retorno dos veteranos da atual guerra do Iraque. Mas a Fox e os republicanos indignaram-se à mera menção desse grave problema, como se não fosse de fato preocupante.


Tratar com leviandade a morte de dr. Tiller e o ataque ao museu em Washington é um risco, como perceberam Smith e Herridge. Os bandos de direita talvez prefiram ser tratados como piada, mas são reais. Mais sensato é não subestimá-los. Até porque, com base naquele alerta do DHS, um grupo já pede doações pela internet e oferece carteiras de identidade para quem se orgulha de ser “extremista de direita”.


Procurados pela mídia, os responsáveis alegaram ser inofensivo, apenas humorístico, o site do grupo Liberty Counsel. Isso é duvidoso: pregam-se ali ideais e obsessões das milícias: interpretação literal da Bíblia, santidade da vida, valores tradicionais da família, porte de armas, redução do poder do governo federal, apoio “às nossas tropas” e aos veteranos. Timothy Weigh assinaria embaixo. Murdoch também.


Autor: Argemiro Ferreira

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Lula presidente do Banco Mundial?


Segundo o jornal espanhol El País, há rumores sobre uma possível indicação de Lula para o cargo de presidente do BM, apoiada por Barack Obama.
Se acontecer, será a primeira vez que um não norte-americano comandará o cargo, em 65 anos.
O governo brasileiro nem confirma nem nega a informação do jornal espanhol.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Europa à direita, América Latina à esquerda

Foram os europeus que inventaram a expressão “esquerda”, foram eles que nos exportaram seus grandes teóricos, foram sempre eles as referências para as esquerdas de outras regiões do mundo, durante mais de um século e meio. Agora a Europa se torna um bastião da direita, a esquerda européia vive seu momento de maior debilidade desde que o termo foi inventado, enquanto a esquerda se fortalece na América Latina.

Partidos tradicionais de esquerda desfigurados, com tantos deles tendo aplicado rigorosamente políticas neoliberais – como os casos da Espanha, da França, da Inglaterra, da Alemanha, entre tantos outros. Sindicatos muito debilitados, devido às políticas de “flexibilização laboral”, ao desemprego, à exploração chovinista contra os trabalhadores imigrantes. Esquerda radical isolada, dividida. Cenário ideológico dominado pela direita e até mesmo pela extrema direita.

Um continente que vive bem, mais distante do que nunca do que vive a periferia, que não quer mudar, que culpa suas vítimas pelos seus problemas – imigração, “terrorismo”. Um continente que preferiu consolidar sua aliança subordinada com os EUA, do que aliar-se à periferia na luta por um mundo melhor.

Votam à direita, com hegemonia conservadora, porque são os grandes vencedores da globalização neoliberal, enquanto a América Latina vota à esquerda, porque somos vítimas dessa globalização. Enquanto eles rejeitam a esquerda, a América Latina reivindica e trata de reinventá-la. Enquanto eles rejeitam o marxismo, o pensamento critico latinoamericano busca aplicá-lo criativamente. Enquanto eles reforçam o capitalismo de forma conservadora e autoritária, com políticas duras contra a imigração, países latinoamericanos – como a Bolívia e o Equador – reivindicam a seus imigrantes e elegem representantes seus para suas constituintes e seu sistema política de Estados refundados. Enquanto eles projetam lideres direitistas e autoritários como Sarkozy, Berlusconi, Merkel e se representam neles, a América Latina exibe a imagem dos 5 presidentes latinoamericanos de mão dadas ao alto no Fórum Social Mundial – Evo Morales, Rafael Correa, Lula, Hugo Chavez, Fernando Lugo -, todos outsiders da política tradicional, que começam a construir o “outro mundo possível”.

A Europa se transformou em um bastião do conservadorismo no mundo, substituindo a tradicional postura solidária da esquerda no pós-guerra, pelo egoísmo consumista de agora. Promoveu sua integração para se posicionar melhor no mercado mundial, para virar mais ainda um continente fortaleza, fechado sobre si mesmo.

Enquanto a América Latina promove processos de integração solidária, que permitem terminar com o analfabetismo na Venezuela e na Bolívia, devolver à visão a quase dois milhões de latinoamericanos, formas as primeiras gerações de médicos pobres – através da Alba. Forma um banco da região – o Banco do Sul -, para financiar nossos próprios projetos. Constitui o Conselho Sulamericano de Defesa, para resolver os conflitos internos dentro da própria região e fortalecer a segurança da região frente às ameaças externas.

A eleição e posse recentes de Mauricio Funes, em El Salvador, apenas confirma essa tendência latinoamericano de buscar na esquerda – moderada ou radical – a solução para seus problemas e a vida de superação do neoliberalismo, forjado e exportado do centro do capitalismo para nossos países e assumido por governos aliados do centro do capitalismo. Enquanto a América Latina privilegia a unidade do Sul do mundo, contra o neocolonialismo e a dominação imperial do centro.

A Europa se torna uma espécie de museu, congelada, buscando estar de costas para o novo mundo que procuramos construir. Nós, America Latina, um laboratório de experiências de construção desse novo mundo.


Autor: Emir Sader

terça-feira, 2 de junho de 2009

HELP!





A General Motors (Chevrolet) passa a ser uma estatal do governo americano.


A General Motors entrou nesta segunda-feira (1º), numa corte de Nova York, com um pedido de concordata. Trata-se da terceira maior quebra de empresa da história dos Estados Unidos, atrás apenas do Lehman Brothers e da WorldCom. A derrocada da GM superou até mesmo a da Enron, em 2001. Agora 60% da empresa pertence ao governo dos Estados Unidos.


A quebradeira não para.

E o grupo cresce...


O jornalista Mauricio Funes, o primeiro presidente de esquerda da história de El Salvador, assumiu o cargo (1º de junho) na presença de quase duas dezenas de líderes políticos, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a "assistente" de Obama, Hillary Clinton.
Mauricio Funes se juntará ao grupo da esquerda bolivariana, que começou com Hugo Chávez na Venezuela e hoje já tem a Bolívia, Equador e Nicarágua também agregados ao bloco, que está cada vez maior.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sanguinário Mundo Novo

“É impensável que Deus, que é sábio, tenha posto uma alma, sobretudo uma alma boa, num corpo negro”, nos disse absurdamente lá no século XVIII, o pai da liberdade e democracia moderna, o iluminista Barão de Montesquieu. Hoje temos um negro comandando o planeta, um mestiço na presidência da Venezuela, um ex-operário eleito no Brasil e um índio no poder da Bolívia, sem falar dos “amarelos” lá da Ásia, que já estão incomodando muito o intocável Ocidente. Bush, o homem que “democratizou” o Iraque e Afeganistão, deu início ao século XXI, que tem tudo para ser mais violento e sanguinário da história.

Nem parece, mas Barack Obama mata tão bem quanto os “brancos de olhos azuis” que ocuparam a presidência dos Estados Unidos desde 1789. No começo de maio (2009), integrantes das Forças Especiais da Marinha dos EUA brincaram de tiro ao alvo nos arredores de Bala Baluk e Ganjabad, no Afeganistão, matando cerca de 150 civis afegãos, que estavam passeando, trabalhando, estudando, namorando, casando e se divertindo, sem imaginar que bombas iriam cair sobre suas cabeças. Ninguém soube do bombardeio, ninguém comentou abertamente sobre as famílias perdidas. A política externa do Novo EUA sobre o Oriente Médio é a mesma: palestinos são do mal e israelenses são do bem, os cruzados da Cristandade contra os netos de Caim. O Irã é governado pela teocracia do demônio, enquanto a “democrática” Arábia Saudita tem a bênção dos americanos.

Já na Ásia, nada vai mudar da Era Bush para a Era Obama. A China comunista é a maior parceira do capital financeiro e dos EUA, os chineses controlam o coração que bombeia os trilhões de dólares e euros que circulam no mundo. Todos os países devem à China, inclusive os EUA. Porém, outro país comunista vem metendo medo nos estadunidenses e nos vizinhos asiáticos, que é a Coréia do Norte, pois já testou duas bombas nucleares, mas não matou ninguém. Já os americanos, também testaram duas bombas nucleares em 1945 e morreram 400 mil japoneses. Este mesmo Japão que hoje é a principal ponte entre EUA e a Ásia (como a Inglaterra é na Europa). O problema da Coréia do Norte é infinitamente superior para os americanos, do que foi o Iraque, onde invadiram e mataram 900.000 pessoas de 2003 pra cá. Kim Jong Il, o presidente norte-coreano, já disse: “Qualquer coisa, o Japão está no alvo”. Ninguém vai deixar tirar uma Mitsubishi do planeta. Se invadirem a Coréia do Norte, metade da Ásia vai pro espaço. E que se cuide a América e o Mickey Mouse.

Por falar em América, não iremos observar mudanças relevantes nas relações dos EUA e nós, latinos, no início deste século e da nova década que virá. Obama só tem uma preocupação na América do Sul e Central: os países que criaram vida própria. Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, El Salvador, Paraguai e a veterana Cuba (sem falar de países com uma esquerda mais moderada, como Brasil, Argentina e Chile) formaram uma frente única para confrontar com o capital financeiro e estrangeiro, que tinham privatizado até a água da chuva na maioria desses lugares. A América Latina, pela primeira vez desde a chegada de Cristóvão Colombo, ameaça os grandes países com certa dose de autonomia. Fora isso, os EUA não têm nada para tratar com os latino-americanos, por enquanto. O “ouro azul”, a água, ainda não é prioridade, mas em breve será e seremos invadidos. E o etanol é produzido nos EUA também (através do milho), portanto não precisa ser explorado e levado do Brasil. Mas é só questão de tempo.

E a Europa? Como está o berço da civilização e das guerras mundiais? No velho continente dou destaque para a Rússia. Depois do estopim da crise financeira internacional, muitos acharam que seria o fim do capitalismo e do Império Americano no mundo. O capitalismo não morreu, nem vai morrer agora e muito menos os EUA vão deixar de ser o líder planetário. Mas aconteceu uma diminuição no espaço de poder entre os países ricos, ou seja, algumas nações que antes estavam adormecidas, agora acordaram. A Rússia é o grande exemplo. Depois da desintegração da URSS em 1991, os russos perderam grandes territórios que continham bases militares estratégicas e imensos recursos naturais e minerais, dando um corte pesado na sua poderosa economia. Moscou nunca aceitou a perda, por isso, o que estamos vendo hoje é uma nova tensão na Europa. Desde 2007, a Rússia está tentando formar um bloco econômico com a França (esta que não está contente com o andamento das relações na União Européia e o euro, pois com a mudança da moeda e a unificação continental, milhares de franceses perderam seus empregos), Turquia e alguns países do norte da África, para entrar em choque com os demais países da Europa, principalmente a Alemanha. Sem falar das tensões entre a Rússia e os EUA sobre a instalação de escudos antimísseis na Polônia. E o que os russos querem? Combater o euro também? Não. A Rússia quer força e apoio para reconquistar o que foi perdido. Está nascendo uma guerra de reconquista na Europa. A última guerra de reconquista em solo europeu terminou com um saldo de 50 milhões de mortos na 2ª Guerra Mundial, sem contar os cinco milhões de judeus que viraram sabonete e pó nos campos de concentração.

O planeta está dividido em grandes blocos político-econômicos que se odeiam. Se pegarmos os números reais, os nove primeiros anos do século XXI nos mostraram mais mortos por conflitos e guerras, do que os nove primeiros anos do século XX. Estamos começando o século do sangue, um mundo novo cheio de alternativas para assassinar, invadir, torturar e explorar. Nosso poder de matar aumentou infinitamente, através da tecnologia de ponta. As guerras e carnificinas deixaram de ser contradições do nosso tempo. Já a paz, esta sim, passou a ser a grande contradição.


Felipe Liberal