sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Extrema-esquerda funda novo partido na França

Alerta para o que está acontecendo na França. Foi criado o Novo Partido Anticapitalista, que tem como líder: Olivier Besancenot.

O novo partido, está totalmente separado do tradicional Partido Socialista Francês. Como mostra a reportagem acima, a fundação do partido, de certa forma, fragmentou a esquerda francesa, alegrando o então presidente Nicolas Sarkozy. Porém, a proposta do de Olivier Besancenot tem a vantagem de aproveitar o momento de crise financeira, econômica e moral do capitalismo, e tirar sua máscara.

Outra vantagem também, é a renovação da roupagem e do discurso comunista, que pode atrair cada vez mais os jovens e a classe média para as novas idéias.

Segundo Louis Weber (Secretário de Redação da revista Savoir), a extrema-esquerda (composição do novo partido) já conta com 15% do eleitorado francês, trazendo novas tensões para os vizinhos franceses, principalmente Alemanha e Inglaterra.


Felipe Liberal

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Por que Hugo Chávez ganhou?

Uma vez mais, em dez anos, Hugo Chávez triunfou nas eleições internas. À exceção da consulta de reforma constitucional de dezembro de 2007, ele triunfou em todas as 14 eleições, presidenciais, de referendos do mandato presidencial e outras. Volta agora a triunfar.

A levar a sério as versões da grande maioria – a quase totalidade da mídia privada nacional e internacional – não se pode entender suas vitórias. Que aos 10 anos de mandato, sob efeito de uma brutal oposição da mídia monopolista privada, das entidades do grande empresariado, dos partidos tradicionais, entre outras entidades que fazem parte do bloco de direita, Hugo Chavez detenha um apoio popular majoritário, só poderia ser atribuído a algum tipo de fraude. No entanto a própria oposição reconheceu a normalidade das eleições e a vitória de Chavez.

A razão de fundo para o apoio de Chávez na massa majoritariamente pobre da população venezuelana é a mesma que explica o êxito de governantes que privilegiam políticas sociais em detrimento da ditadura da economia e do mercado, característica dos governos que os precederam. Num país petroleiro, é incrível a pobreza venezuelana, revelando como as elites desse país fizeram a farra do petróleo, enriquecendo-se elas e distribuindo parte da renda petroleira a outros setores, políticos e sociais – incluindo a antiga “esquerda” e grandes setores do movimento sindical – que participavam da corrupção estatal.

Essas mesmas elites não perdoam que Hugo Chavez lhes tenha arrebatado não apenas o governo e o Estado, mas a principal fonte de riquezas do país – a PDVSA. E que dedique cerca de um quarto dos recursos obtidos por essa empresa para políticas sociais – para resgatar direitos essenciais da massa pobre da população, vitima principal do enriquecimento das elites tradicionais. Além de se valer de parte desses recursos para políticas internacionais solidárias – inclusive com setores pobres dos EUA.

Os resultados são claros: a extrema pobreza foi reduzida de 17,1 a 7,9. Cresceu a taxa de escolaridade e de preescolaridade, que subiu de 40 a 60%. Terminou o analfabetismo, segundo a constatação da Unesco. A participação feminina subiu muito no Parlamento e quatro mulheres dirigem a Corte Suprema, a Procuradoria Geral, o Conselho Nacional Eleitoral e a Assembléia Nacional. A taxa de mortalidade infantil diminuiu de 27 por mil a praticamente a metade: 14 por mil. O acesso a água potável subiu de 80 a 92% da população. Diminuiu significativamente a desigualdade social, a Venezuela subiu bastante no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, aumentou a expectativa de vida, diminuiu o desemprego, aumentou o trabalho formal em relação ao precário, foram legalizados milhões de aposentados, o consumo de alimentos subiu 170%. Em suma, como em todos os governos que buscam reverter a herança neoliberal, se dá um imenso processo de afirmação dos direitos da grande maioria, refletido na sua promoção social e na expansão do mercado interno de consumo popular.

A ideologia bolivariana articula promoção dos direitos à soberania nacional, à solidariedade internacional e à construção de um tipo de sociedade fundada nas necessidades da população e não nos mecanismos de mercado – a que Chavez aponta como o socialismo do século XXI.

A nova vitória de Chávez tem nessas bases seu fundamento. À falência das corruptas elites tradicionais, a Venezuela passou a viver o maior processo de democratização social e política da sua história. Essa vitória permite e compromete o governo com o enfrentamento da grande quantidade de problemas pendentes e que responde, em parte pela derrota anterior do governo, em dezembro de 2007.

Entre eles, a adaptação do Estado às necessidades de gestão eficiente e transparente de suas políticas, o enfrentamento do tema da violência, o avanço na construção de estruturas de poder político popular de base e do partido, o desenvolvimento de políticas econômicas que permitam a edificação de estruturas econômicas menos dependentes do petróleo, de caráter industrial e tecnologicamente avançadas.

As derrotadas são as elites tradicionais, que controlam 80% da mídia privada do país, que promoveram o golpe militar contra Chavez, um lock-out e a fuga de capitais contra o país, que se articulam com o governo dos EUA contra as autoridades legitimamente eleitas e reconfirmadas pelo voto democrático do povo venezuelano. Chavez sai fortalecido da consulta, assim como a imensa massa pobre da população, que ingressa, através do processo bolivariano à historia política do país.


Autor: Emir Sader

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A GLOBALIZAÇÃO DA FRAGMENTAÇÃO

O neoliberalismo, que seria o rosto mais perverso do todo poderoso capitalismo, não se fixou. O sistema que globaliza mercados e culturas não se organizou e está começando a dar sinais de amadorismo, mostrando sua verdadeira face em vários momentos, coisa que a história já mostrou que não é aconselhável.

A Europa, agora com sua união mais desunida de todos os tempos, começa a mostrar que toda a fantasia harmoniosa que forma a comunidade européia é apenas fachada. A Inglaterra, com Gordon Brown e seu novo governo trabalhista, continua com seus desejos de combater o que se tenta chamar de “Grande Império Europeu”, ratificando-se como eterna ponte entre os E.U.A e a Europa. Do outro lado do canal, o novo chefe francês, Nicolas Sarkozy, já toma decisões protecionistas, visando defender o emprego dos franceses contra a globalização liberal, desestabilizando o euro e entrando em choque com o carro-chefe da UE, a Alemanha.
Angela Merkel, primeira-ministra alemã quer o euro cada vez mais forte e começa uma integração econômica cada vez maior com a Rússia, de certa forma se distanciando do poderio britânico e criando tensões com a França. Sarkozy por sua vez, já fala em um novo bloco aliado a países norte-africanos e a Turquia, sob sua liderança. A Europa não está globalizada, como o mundo também não está, a fragmentação é o que há de mais real nesse momento da história mundial, portanto não é apenas na Europa.

Como não falar de um dos continentes mais complexos e extremos do mundo, a América Latina? Talvez o continente mais despolitizado do planeta e ao mesmo tempo um dos mais revolucionários também. Essa complexidade que nos cerca aqui embaixo está evidente nesse novo processo que está em andamento desde a virada do século. O neoliberalismo está sendo tão desgastante, através do seu genocídio silencioso, que o novo socialismo, ou o pós-neoliberalismo (não se sabe ainda), está rapidamente tomando as cabeças latino americanas nos principais países.

A permissão que os povos como os da Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, deram aos seus novos governantes, foi de grande coragem e uma determinante resposta ao imperialismo estadunidense. Essas pessoas simplesmente decidiram que o país pertence ao povo e não a empresas de nomes estranhos e sem rosto. As reformas sociais, a mudança no cotidiano das pessoas, o sentimento de uma verdadeira solidariedade entre nações, passou por cima de todas as leis de mercado e necessidades consumistas, pelo menos entre os mais pobres. É de extrema importância ratificar e ressaltar o nosso continente dentro do quadro mundial, principalmente por esse novo pensamento está sendo contagiado para novos países e nações. A unificação da América Latina a torna fragmentada do resto do mundo e da América do Norte.

Não podemos deixar de falar sobre complexidade, sem falar do continente asiático. A efervescência econômica que vigora do outro lado do mundo é extremamente prejudicial a qualquer tentativa de progresso social em grande escala. Tudo que foi conquistado na China para o povo, está sendo devolvido de forma despótica para o desenvolvimento econômico, que não pode parar. A China cresce em parceria com os E.U.A, sem ele nada funciona no país de Mao. A dependência econômica mútua entre esses dois países elimina qualquer ameaça de conflito militar num futuro próximo, transformando a Ásia num continente indiscutivelmente capitalista. O Japão, representante estadunidense na localidade, funciona muito semelhante à Inglaterra, carregando as outras potências emergentes nas costas e defendendo com unhas e dentes a soberania imperialista americana.

Portanto, não estamos falando de um bloco mundial globalizado, e sim, de vários blocos heterogêneos ao redor do planeta. Isto não é novo, pelo contrário, sempre existiu em todos os períodos da história, porém sempre serviu como uma projeção de novos conflitos entre grandes países. O mundo está se desenhando novamente para esse novo velho quadro.




Felipe Liberal é Professor de História e Cientista Político

domingo, 1 de fevereiro de 2009

A INDIGESTÃO DO CAPITAL

A crise internacional não tem rosto. Simplesmente porque seu principal protagonista, o capitalismo, também não tem. Este nosso sistema não se identifica por ninguém. Não existem pessoas responsáveis pelo capitalismo, são apenas empresas e estatísticas. Portanto, a culpa é de quem? Quem causou tudo isso? Por que esse sistema tão livre, democrático e globalizado quebrou inúmeras vezes?

O capitalismo liberal, ou melhor, neoliberal, que nós vivenciamos, não sobrevive a si. Felizmente Marx, no meio do século XIX, já anunciava todos os lucros e todas as crises que a mais-valia e a especulação trouxeram para nós no século XX e no início do XXI. Tudo isso já era previsto antes de qualquer ameaça de “crack”, até mesmo o de 1929. O neoliberalismo não tem sustentação, não tem onde se apoiar. Seria como um operário andando em cima de um prédio em construção sem cordas de proteção. É quase uma tentativa de suicídio.

O livre mercado, criou uma espécie de governo próprio (pois a intervenção estatal é inaceitável), onde quem manda são os banqueiros e donos de indústrias, ou seja, a burguesia. Porém, esse “governo” precisa essencialmente de três coisas: pessoas pra explorar, dinheiro pra investir e emprestar, e lucro. Pra disfarçar tudo isso, foi criado um mundo mágico, correspondido pela “liberdade” de consumo, ligado a publicidade; pela televisão com seus filmes e desenhos animados (Walt Disney é o nosso maior exemplo, onde ratos, patos e cachorros usam cartão de crédito, obedecem à publicidade e brigam por heranças milionárias) e pela falsa democracia, de onde tudo se justifica, inclusive guerras desnecessárias. Tudo isso dá um aspecto de naturalidade para todas as desigualdades existentes, principalmente, no lado sul do planeta.

Barack Hussein Obama – por conta do momento em que tomou posse – terá um grande problema nas mãos, pois vai entrar como o protetor do capitalismo, salvador da crise internacional em um mundo totalmente mudado de 2001, quando Bush tomou o poder. A crise econômica está fazendo reviver potências adormecidas e ressentidas, como a Rússia, que já está mostrando que quer recuperar todo o prejuízo econômico e político que herdou do colapso da União Soviética (perda de territórios e de prestígio mundial); a Europa vive tensões sérias entre seus principais países, por conta do euro; a América Latina vive sua maior mudança política desde a chegada de Cristóvão Colombo, se distanciando cada vez mais da unilateralidade com os estadunidenses; a China cresce muito mais do que crescia há oito anos, porém, os chineses precisam de uma relação estável com os americanos, para que continuem a crescer assustadoramente. Portanto, não se pode iludir com todas as promessas de campanha do democrata, o governo estadunidense obedece àqueles burgueses que detém o “governo” que realmente funciona, ou seja, tudo vai continuar do mesmo modo que o governo Bush, talvez com menos guerras, mas em compensação, com uma maior necessidade obsessiva de sugar os países mais fracos (por conta da necessidade de manutenção do status de primeira potência, por isso, o protecionismo americano tende a aumentar), que agora estão mais fortes, mais distantes e menos globalizados com os interesses americanos. Quanto mais forte o resto do mundo, menos globalizado ele fica, pois a globalização é sinônima de dominação.

Além de todos esses fatores, sabemos quanto o capitalismo necessita de um mundo próprio, transformando todo o sistema econômico em uma partida de pôker incontrolável, facilitando quebradeiras como atualmente estamos presenciando. A culpa disso tudo é da ganância, da alienação, da desinformação e acima de tudo do imediatismo e imperialismo político-econômico, que mastiga e engole tudo e todos. Porém, como aconteceu no Império Romano, pode morrer de indigestão.


Felipe Liberal é professor de História e Cientista Político