segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sanguinário Mundo Novo

“É impensável que Deus, que é sábio, tenha posto uma alma, sobretudo uma alma boa, num corpo negro”, nos disse absurdamente lá no século XVIII, o pai da liberdade e democracia moderna, o iluminista Barão de Montesquieu. Hoje temos um negro comandando o planeta, um mestiço na presidência da Venezuela, um ex-operário eleito no Brasil e um índio no poder da Bolívia, sem falar dos “amarelos” lá da Ásia, que já estão incomodando muito o intocável Ocidente. Bush, o homem que “democratizou” o Iraque e Afeganistão, deu início ao século XXI, que tem tudo para ser mais violento e sanguinário da história.

Nem parece, mas Barack Obama mata tão bem quanto os “brancos de olhos azuis” que ocuparam a presidência dos Estados Unidos desde 1789. No começo de maio (2009), integrantes das Forças Especiais da Marinha dos EUA brincaram de tiro ao alvo nos arredores de Bala Baluk e Ganjabad, no Afeganistão, matando cerca de 150 civis afegãos, que estavam passeando, trabalhando, estudando, namorando, casando e se divertindo, sem imaginar que bombas iriam cair sobre suas cabeças. Ninguém soube do bombardeio, ninguém comentou abertamente sobre as famílias perdidas. A política externa do Novo EUA sobre o Oriente Médio é a mesma: palestinos são do mal e israelenses são do bem, os cruzados da Cristandade contra os netos de Caim. O Irã é governado pela teocracia do demônio, enquanto a “democrática” Arábia Saudita tem a bênção dos americanos.

Já na Ásia, nada vai mudar da Era Bush para a Era Obama. A China comunista é a maior parceira do capital financeiro e dos EUA, os chineses controlam o coração que bombeia os trilhões de dólares e euros que circulam no mundo. Todos os países devem à China, inclusive os EUA. Porém, outro país comunista vem metendo medo nos estadunidenses e nos vizinhos asiáticos, que é a Coréia do Norte, pois já testou duas bombas nucleares, mas não matou ninguém. Já os americanos, também testaram duas bombas nucleares em 1945 e morreram 400 mil japoneses. Este mesmo Japão que hoje é a principal ponte entre EUA e a Ásia (como a Inglaterra é na Europa). O problema da Coréia do Norte é infinitamente superior para os americanos, do que foi o Iraque, onde invadiram e mataram 900.000 pessoas de 2003 pra cá. Kim Jong Il, o presidente norte-coreano, já disse: “Qualquer coisa, o Japão está no alvo”. Ninguém vai deixar tirar uma Mitsubishi do planeta. Se invadirem a Coréia do Norte, metade da Ásia vai pro espaço. E que se cuide a América e o Mickey Mouse.

Por falar em América, não iremos observar mudanças relevantes nas relações dos EUA e nós, latinos, no início deste século e da nova década que virá. Obama só tem uma preocupação na América do Sul e Central: os países que criaram vida própria. Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, El Salvador, Paraguai e a veterana Cuba (sem falar de países com uma esquerda mais moderada, como Brasil, Argentina e Chile) formaram uma frente única para confrontar com o capital financeiro e estrangeiro, que tinham privatizado até a água da chuva na maioria desses lugares. A América Latina, pela primeira vez desde a chegada de Cristóvão Colombo, ameaça os grandes países com certa dose de autonomia. Fora isso, os EUA não têm nada para tratar com os latino-americanos, por enquanto. O “ouro azul”, a água, ainda não é prioridade, mas em breve será e seremos invadidos. E o etanol é produzido nos EUA também (através do milho), portanto não precisa ser explorado e levado do Brasil. Mas é só questão de tempo.

E a Europa? Como está o berço da civilização e das guerras mundiais? No velho continente dou destaque para a Rússia. Depois do estopim da crise financeira internacional, muitos acharam que seria o fim do capitalismo e do Império Americano no mundo. O capitalismo não morreu, nem vai morrer agora e muito menos os EUA vão deixar de ser o líder planetário. Mas aconteceu uma diminuição no espaço de poder entre os países ricos, ou seja, algumas nações que antes estavam adormecidas, agora acordaram. A Rússia é o grande exemplo. Depois da desintegração da URSS em 1991, os russos perderam grandes territórios que continham bases militares estratégicas e imensos recursos naturais e minerais, dando um corte pesado na sua poderosa economia. Moscou nunca aceitou a perda, por isso, o que estamos vendo hoje é uma nova tensão na Europa. Desde 2007, a Rússia está tentando formar um bloco econômico com a França (esta que não está contente com o andamento das relações na União Européia e o euro, pois com a mudança da moeda e a unificação continental, milhares de franceses perderam seus empregos), Turquia e alguns países do norte da África, para entrar em choque com os demais países da Europa, principalmente a Alemanha. Sem falar das tensões entre a Rússia e os EUA sobre a instalação de escudos antimísseis na Polônia. E o que os russos querem? Combater o euro também? Não. A Rússia quer força e apoio para reconquistar o que foi perdido. Está nascendo uma guerra de reconquista na Europa. A última guerra de reconquista em solo europeu terminou com um saldo de 50 milhões de mortos na 2ª Guerra Mundial, sem contar os cinco milhões de judeus que viraram sabonete e pó nos campos de concentração.

O planeta está dividido em grandes blocos político-econômicos que se odeiam. Se pegarmos os números reais, os nove primeiros anos do século XXI nos mostraram mais mortos por conflitos e guerras, do que os nove primeiros anos do século XX. Estamos começando o século do sangue, um mundo novo cheio de alternativas para assassinar, invadir, torturar e explorar. Nosso poder de matar aumentou infinitamente, através da tecnologia de ponta. As guerras e carnificinas deixaram de ser contradições do nosso tempo. Já a paz, esta sim, passou a ser a grande contradição.


Felipe Liberal

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