domingo, 1 de fevereiro de 2009

A INDIGESTÃO DO CAPITAL

A crise internacional não tem rosto. Simplesmente porque seu principal protagonista, o capitalismo, também não tem. Este nosso sistema não se identifica por ninguém. Não existem pessoas responsáveis pelo capitalismo, são apenas empresas e estatísticas. Portanto, a culpa é de quem? Quem causou tudo isso? Por que esse sistema tão livre, democrático e globalizado quebrou inúmeras vezes?

O capitalismo liberal, ou melhor, neoliberal, que nós vivenciamos, não sobrevive a si. Felizmente Marx, no meio do século XIX, já anunciava todos os lucros e todas as crises que a mais-valia e a especulação trouxeram para nós no século XX e no início do XXI. Tudo isso já era previsto antes de qualquer ameaça de “crack”, até mesmo o de 1929. O neoliberalismo não tem sustentação, não tem onde se apoiar. Seria como um operário andando em cima de um prédio em construção sem cordas de proteção. É quase uma tentativa de suicídio.

O livre mercado, criou uma espécie de governo próprio (pois a intervenção estatal é inaceitável), onde quem manda são os banqueiros e donos de indústrias, ou seja, a burguesia. Porém, esse “governo” precisa essencialmente de três coisas: pessoas pra explorar, dinheiro pra investir e emprestar, e lucro. Pra disfarçar tudo isso, foi criado um mundo mágico, correspondido pela “liberdade” de consumo, ligado a publicidade; pela televisão com seus filmes e desenhos animados (Walt Disney é o nosso maior exemplo, onde ratos, patos e cachorros usam cartão de crédito, obedecem à publicidade e brigam por heranças milionárias) e pela falsa democracia, de onde tudo se justifica, inclusive guerras desnecessárias. Tudo isso dá um aspecto de naturalidade para todas as desigualdades existentes, principalmente, no lado sul do planeta.

Barack Hussein Obama – por conta do momento em que tomou posse – terá um grande problema nas mãos, pois vai entrar como o protetor do capitalismo, salvador da crise internacional em um mundo totalmente mudado de 2001, quando Bush tomou o poder. A crise econômica está fazendo reviver potências adormecidas e ressentidas, como a Rússia, que já está mostrando que quer recuperar todo o prejuízo econômico e político que herdou do colapso da União Soviética (perda de territórios e de prestígio mundial); a Europa vive tensões sérias entre seus principais países, por conta do euro; a América Latina vive sua maior mudança política desde a chegada de Cristóvão Colombo, se distanciando cada vez mais da unilateralidade com os estadunidenses; a China cresce muito mais do que crescia há oito anos, porém, os chineses precisam de uma relação estável com os americanos, para que continuem a crescer assustadoramente. Portanto, não se pode iludir com todas as promessas de campanha do democrata, o governo estadunidense obedece àqueles burgueses que detém o “governo” que realmente funciona, ou seja, tudo vai continuar do mesmo modo que o governo Bush, talvez com menos guerras, mas em compensação, com uma maior necessidade obsessiva de sugar os países mais fracos (por conta da necessidade de manutenção do status de primeira potência, por isso, o protecionismo americano tende a aumentar), que agora estão mais fortes, mais distantes e menos globalizados com os interesses americanos. Quanto mais forte o resto do mundo, menos globalizado ele fica, pois a globalização é sinônima de dominação.

Além de todos esses fatores, sabemos quanto o capitalismo necessita de um mundo próprio, transformando todo o sistema econômico em uma partida de pôker incontrolável, facilitando quebradeiras como atualmente estamos presenciando. A culpa disso tudo é da ganância, da alienação, da desinformação e acima de tudo do imediatismo e imperialismo político-econômico, que mastiga e engole tudo e todos. Porém, como aconteceu no Império Romano, pode morrer de indigestão.


Felipe Liberal é professor de História e Cientista Político

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