segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Teletela, a Verdade e a Mentira

 


tvLá pelos idos de 1948, um “feiticeiro” inglês de nome mentiroso chamado George Orwell, escreveu um livro que abalou o mundo e pouca gente conhece. A obra 1984 parece ser um livro de magia, uma previsão de um tempo triste, onde nós somos dominados por um regime invisível chamado de Grande Irmão (Big Brother), e vigiados por uma caixa de madeira que dita ordens, a Teletela. Apelidada por nós, humanos e mortais, de Televisão, a caixa de madeira ganhou força, move montanhas, abre mares e define quem vive e quem morre.


 


Deus inventou a mediocridade humana e o Diabo inventou a televisão (ou foi o contrário?), esta que caminha de mãos dadas com a publicidade e propaganda. Mas a televisão mata? A publicidade assassina?


 


Alguém sabe que a empresa inglesa Hugo Boss vestiu o exército nazista no front de batalha e nos campos de concentração? Você sabia que os prisioneiros dos campos de concentração nazistas trabalharam – de graça – nas fábricas da Volkswagen, BMW, Siemens, Bosch e Krupp? E que os aviões nazistas voavam com o combustível da Standard Oil e seus soldados viajavam em caminhões e jipes da Ford? Não sabia? Claro que não! A publicidade escondeu tudo e comprou todos, levando ao saldo de cinco milhões de vidas queimadas, torturadas e humilhadas nos campos de extermínio.


 


A televisão não mostrou quando, em 1979, o arcebispo de El Salvador, Oscar Romero, viajou para o Vaticano mendigando uma audiência com o papa João Paulo II para denunciar as atrocidades que o regime militar de direita estava fazendo com a população salvadorenha. Ninguém ouviu nada. Oscar também bateu na porta de várias emissoras de televisão da Itália, mas ninguém ligou. Sem falar das omissões das emissoras brasileiras durante o nosso regime militar, favorecendo todas as torturas e desaparecimentos.


 


Em 1984, ninguém ouviu e nem soube dos “gritos de pavor” de Leonardo Boff dentro dos calabouços do Vaticano, quando a Santa Inquisição (agora com um nome mais discreto – Congregação para a Doutrina da Fé) o chamou para indagar sobre sua tentativa de salvar os pobres da América Latina. A Igreja do Medo e a televisão vivem ansiosas para cravar na cruz qualquer “filho de carpinteiro”, desses que andam pelo mundo influenciando pessoas e chateando impérios.


 


Quando a televisão e a Renault, na década de 90 do século XX, esconderam os níveis de poluição em Paris (causados principalmente pela emissão de gases dos carros), morreram dezenas de pessoas por problemas respiratórios. Se a mídia mostrasse todas as atrocidades cometidas contra os palestinos nas redondezas do Estado de Israel, milhões de vítimas poderiam ser evitadas.


 


O novo EUA, versão 2009, já fez três intervenções militares onde causou mais de 200 mortes, em apenas cinco meses de governo do presidente muçulmano Barack Obama. Sem esquecer as 73 intervenções que fez o “presidente da paz”, Bill Clinton, durante seu governo. Apenas duas de todas essas intervenções foram divulgadas. Sobre Bush, prefiro não comentar, pois nem a TV conseguiu esconder as milhões de vítimas no Oriente Médio.


 


A “caixa de madeira” não mostrou nem metade das atrocidades que estão sendo cometidas em Honduras, pela extrema-direita que tomou o poder. Líderes contrários ao golpe estão sendo torturados em galpões nos arredores de Tegucigalpa. Há fortes acusações de que integrantes do novo governo estejam enviando maletas de dinheiro para as emissoras de televisão dos países vizinhos e de dentro de Honduras, para amenizar as notícias sobre a matança e torturas dentro do país.


 


São inúmeras as notícias que não existem, ficaria o dia todo escrevendo, que mesmo assim não teria fim. Não existem, porque não são transmitidas pela caixa de madeira. Vivemos num mundo virtual, camuflado e mentiroso. O mundo real e verdadeiro está em outro lugar, inacessível e desconhecido. Se você, caro leitor, for ao lugar mais distante, remoto e pobre do planeta, provavelmente encontrará um televisor erguido como um troféu nas casas de barro de pessoas famintas, e nas telas aparece a liberdade de você escolher entre Johnnie Walker rótulo preto ou Chivas Regal. A Coca-Cola mostra o caminho da felicidade. O leite artificial da Nestlé oferece saúde eterna. As camisas da Hugo Boss, distinção e charme. Os carros da Volkswagem dão uma nova vida e os cartões Master Card, riqueza.


 


Felipe Liberal

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