sábado, 25 de julho de 2009

Afinal, por que os times brasileiros perdem tantas finais de Libertadores?

E o Cruzeiro, hein? Perdeu do Estudiantes, por 2 X 1, de virada, jogando em pleno Mineirão lotado. Creio que o time mineiro era superior, tecnicamente falando, ao clube argentino. Mas, parece que os cruzeirenses entraram num clima de 'já ganhou' e todas as vezes em que isso acontece, o time que pensa que já é campeão, acaba derrotado.

Parece que muitos ainda não aprenderam a lição da final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã.

Porém, além deste 'oba-oba', creio que há um motivo concreto para que os clubes brasileiros percam tantas decisões de Libertadores.

Só para lembrar as mais recentes, tivemos: Estudiantes derrotou o Cruzeiro (2009); LDU derrotou o Fluminense(em 2008); Boca Jrs derrotou o Grêmio (em 2007); Boca Jrs derrotou o Santos (2003); Olimpia derrotou o São Caetano (2002); Boca Jrs. derrotou o Palmeiras (2000).

A questão é: porque os clubes brasileiros falham tanto na decisão da Libertadores?

Alguns atribuem isso a um clima de 'já ganhou' (parece que o mesmo contaminou tanto o Fluminense em 2008, como o Cruzeiro neste ano). Outros dizem que os brasileiros ficam muito nervosos com as tradicionais catimbas e as provocações dos times argentinos, uruguaios, paraguaios e muitas vezes perdem a cabeça, recebendo cartões amarelos e vermelhos em momentos decisivos.

E outros ainda responsabilizam o fato de que os brasileiros se preocupam demais com a arbitragem, pois esta, nos demais países da América do Sul, assinala muito menos faltas do que os árbitros brasileiros.

No Brasil, os jogadores estão acostumados a cavar faltas e os árbitros as marcam quase sempre. Daí, quando vão disputar torneios na América do Sul (Libertadores e a Sul-Americana) os árbitros dos demais países adotam um estilo diferente de atuação e deixam de marcar essas faltas cavadas e até mesmo lances mais duros por partes dos jogadores deixam de ser marcados.

Assim, quando atuam em tais torneios, os brasileiros acabam não resistindo ao jogo mais bruto ou não se adaptando a este estilo diferente de arbitragem.

Mas, mesmo que tudo isso seja verdade, entendo que há um motivo muito simples para explicar toda essa dificuldade que os clubes brasileiros enfrentam na hora de decidir a Libertadores.

É o fato de que nos países vizinhos, os times que disputam a Libertadores são, praticamente, sempre os mesmos, e isso acontece em todos os anos.

Alguém se lembra de alguma Libertadores em que o Boca Jrs ou o River Plate não estivessem presentes? Eu, não. Nos demais países ocorre a mesma situação: Colo-Colo, Nacional (URU), Libertad (PAR), entre outros, disputam a Taça Libertadores, praticamente, todos os anos. Assim, eles acumulam uma imensa experiência na disputa do torneio. Já estão mais do que habituados a participar do mesmo.

Já no Brasil, isso não acontece, a não ser muito raramente.

Com a exceção do São Paulo, que disputou várias Libertadores na sequência, ocorre uma grande variação dos clubes brasileiros que participam da competição. Quase todos os anos temos significativas mudanças na relação dos clubes brasileiros que participam da Libertadores, algo que quase não acontece, ou que ocorre numa frequência bem menor, nos países vizinhos, onde um pequeno número de clubes domina o cenário do futebol local e, assim, estão sempre participando da Libertadores.

E quando algum clube brasileiro volta para participar do torneio no ano seguinte ou 2 ou 3 anos depois, o seu elenco já sofreu tantas modificações, que praticamente nenhum jogador consegue participar de mais de uma Libertadores de maneira consecutiva.

Na semana passada, o técnico do Corinthians, Mano Menezes, declarou que esta inexperiência do elenco do Grêmio em disputa de Libertadores foi o que impediu que o time gaúcho conquistasse o título da competição em 2007, quando perdeu a final da competição para o Boca Jrs, time que disputa a Libertadores todos os anos.

O Corinthians, por exemplo, disputou a Libertadores em 2006 e a disputará, novamente, em 2010. Porém, quantos jogadores que participaram da competição em 2006 estarão presentes em 2010? Nenhum. O Corinthians é o mesmo, mas o elenco será totalmente diferente. Assim, qual a experiência que o atual elenco corintiano possui na disputa da Libertadores? Nenhuma.

E essa inexperiência faz muita diferença, principalmente nos momentos decisivos.

Foi justamente por isso que o técnico Mano Menezes pediu para que o Timão contrate, para 2010, vários jogadores com experiência de Libertadores e que estejam acostumados ao jogo mais duro e mais violento que temos na principal competição do futebol sul-americano.

Assim, creio que a CBF deveria reivindicar que o Brasil tivesse um maior número de vagas (7, pelo menos) na disputa da Libertadores. E isso não seria injusto pois, afinal, existe uma grande diferença qualitativa entre o futebol brasileiro, Pentacampeão Mundial de Futebol, e o da Bolívia, Venezuela, Peru ou Equador. E não me parece justo que o Brasil tenha direito a apenas 5 vagas na Libertadores, enquanto que estes países, sem maior tradição no futebol mundial, tenham 3 vagas cada um.

Com um maior número de clubes brasileiros participando da Libertadores, poderíamos ver vários clubes do país conquistando vagas na Libertadores em quase todos os anos, tal como ocorre com o Boca Jrs, River Plate, Nacional do Uruguai, acumulando uma experiência significativa na disputa da competição.

Com isso, o percentual de vitórias dos clubes brasileiros em decisões da Libertadores iria crescer, sem dúvida alguma.

Marcos Donizet

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